Na cartografia secreta da guerra pela verdade, há uma arte que poucos ousam estudar com a gravidade que merece. Falo da política, não como espetáculo vulgar ou como campo de slogans e vaidades, mas como ciência do poder, da ordem e da alma coletiva. O guerreiro da prosperidade e do crescimento que ignora essa dimensão caminha desarmado por territórios minados.
A política, em sua essência mais profunda, não é aquilo que se vê nos palanques, nos jornais ou nas redes. Ela é o campo invisível onde se decide o destino das nações, das ideias e até das consciências. Compreendê-la é mais do que um capricho intelectual ,é um ato de sobrevivência estratégica.
Política como campo de batalha da realidade
Aristóteles, mestre da filosofia e da prudência, ensinava que o homem é naturalmente um ser político. Não por vocação partidária, mas porque seu florescimento depende de viver em comunidade, sob leis, governo e justiça. Quem foge da política, dizia ele, não se torna mais livre, mas menos humano. O exílio da pólis é o exílio da razão.
Entender a política, portanto, é compreender como as forças que nos cercam moldam aquilo que chamamos de realidade. É perceber que não há neutralidade quando se trata da ordem pública. A ignorância política não gera inocência, mas submissão.
Nesse campo de forças, tudo está em disputa: a linguagem, os símbolos, a educação, a autoridade, a própria noção de bem. Quem domina esses elementos não apenas governa, mas define o que é considerado verdadeiro ou falso, justo ou injusto. O guerreiro da prosperidade precisa, então, ver além do ruído e ler o mapa oculto dessa batalha.
Formação política não é militância
Aqui jaz uma armadilha comum. Muitos pensam que estudar política é o mesmo que escolher um lado e gritar mais alto. Não é. A verdadeira formação política começa no silêncio, na leitura paciente, na escuta dos grandes mestres. Não é a paixão que guia o estrategista, mas o discernimento. O guerreiro que busca crescer deve distinguir entre o jogo superficial das narrativas e a estrutura profunda dos acontecimentos.
A política, quando estudada com seriedade, não reduz o mundo a ideologias. Pelo contrário, desmascara as ideologias como filtros que turvam a visão do real. Aqueles que veem apenas direita e esquerda, bem e mal, amigos e inimigos, tornam-se peças no tabuleiro que não compreendem.
A missão do guerreiro é outra. É tornar-se capaz de pensar politicamente, isto é, perceber as relações de poder e os seus efeitos na vida concreta, nos hábitos, na cultura, na linguagem. Não se trata de repetir discursos, mas de enxergar as estratégias ocultas por trás deles.
A vigilância do Comandante Interior
Para não se perder na névoa das palavras manipuladas, o guerreiro precisa acionar o seu Comandante Interior. É essa força que o impede de se seduzir por promessas fáceis ou indignações fabricadas. O Comandante Interior não se embriaga com manchetes. Ele investiga, compara, recorda.
Esse estado de vigília é indispensável num tempo em que até os significados estão em disputa. Em nome de supostas causas nobres, redefine-se tudo: liberdade, justiça, verdade. Mas sem raízes na realidade, essas palavras se tornam ruínas. E um povo que já não entende o vocabulário com que é governado é como um exército que perdeu o código dos seus próprios sinais.
O guerreiro da prosperidade precisa resgatar o significado das palavras. Não para vencê-las, mas para purificá-las. A linguagem é a armadura do pensamento. E quem fala com clareza, age com firmeza.
O governo da alma precede o governo do mundo
Toda política começa dentro. A desordem interior precede o caos exterior. Por isso, a formação política não é apenas uma preparação para o debate ou para a ação pública. É, antes, um exercício de autogoverno. Sem domínio sobre si mesmo, nenhum homem é digno de influenciar outros.
O Sábio da Trincheira, que orienta os guerreiros nos momentos mais sombrios, costuma lembrar que um espírito corrompido será sempre escravo, mesmo que habite uma terra livre. Essa advertência ecoa desde os filósofos antigos até os pensadores mais recentes.
Entre esses intérpretes modernos da tradição, um nome se destaca por sua coragem em denunciar os bastidores da decadência intelectual: Olavo de Carvalho. Ele compreendeu que a política, na era contemporânea, deixou de ser o governo dos homens para se tornar o domínio das narrativas. Sua insistência em formar consciências livres e não apenas militantes recoloca a política no eixo da verdade.
No entanto, ele próprio reconhecia a fonte maior de sua inspiração. Aristóteles permanece como o farol do pensamento político clássico. Sua ideia de que a boa política é inseparável da boa vida e que esta depende da virtude , estabelece um padrão inalcançável para os demagogos de qualquer época.
A guerra pelo imaginário
Há uma guerra em curso, mais sutil e mais letal do que qualquer conflito armado. É a guerra pelo imaginário. A política hoje se trava menos nos parlamentos e mais nas telas. Quem controla o que o povo vê, sente e deseja, já governa sem precisar declarar poder.
É por isso que a formação política deve incluir também o domínio cultural. A verdadeira elite política não é feita apenas de estrategistas, mas de pensadores. Não é apenas quem disputa votos, mas quem disputa significados. E, neste campo, o guerreiro da prosperidade precisa empunhar sua espada intelectual com destreza.
A política, nesse sentido, é um prolongamento da filosofia. Não há governo justo sem reflexão profunda. Não há ordem legítima sem fundamentos morais. E não há liberdade sem consciência. O guerreiro que busca prosperar precisa se tornar um intérprete do seu tempo, não um eco das massas.
Uma convocação silenciosa
Este artigo é, no fundo, um chamamento: não para que o leitor se torne ativista ou partidário, mas para que desperte como cidadão consciente do terreno em que pisa. A ignorância política é luxo que não se pode mais pagar. Cada decisão que afeta sua vida , da escola que ensina seus filhos à lei que governa seu trabalho, é moldada por forças que não se veem, mas se sentem.
Negar a política é negar a própria responsabilidade. Fugir dela é trair a própria missão. E abraçá-la, com lucidez e sobriedade, é tornar-se digno de construir um mundo mais verdadeiro.
O guerreiro da prosperidade e do crescimento precisa fazer da ciência política uma aliada, não um ídolo. Precisa estudá-la não para se perder em teorias, mas para agir com precisão. Não para vencer debates, mas para vencer batalhas invisíveis,aquelas que definem o rumo das gerações futuras.
Avante, porque a vitória é o destino natural de quem luta com lucidez!